HistóriaResgatando a memória da Sociedade Pró-Menor Barão Geraldo – 1º capítulo

outubro 16, 2020

Certa vez, já no final da década de mil novecentos e setenta, Sheila encontrava-se em seu lar, cuidando de seus afazeres domésticos, quando inesperadamente a campainha tocou. No portão, encontrava-se uma jovem senhora que se apresentou. Era Cleusa que estava, pelo bairro, batendo em algumas residências aleatoriamente, solicitando doações para um “lar de crianças carentes”.

Cleusa explicou que a “Casa da Vó Izabel” tratava-se, na verdade, da residência da senhora Izabel Vilha, a qual dava morada para “crianças abandonadas”. Sheila, então, mediante a exposição dos fatos apresentados por Cleusa, propos-se a fazer uma campanha entre seus vizinhos e, ao mesmo tempo, demonstrou interesse em acompanhá-la por ocasião da entrega das doações.

Cleusa estranhou o fato de Sheila querer acompanhá-la e raciocinou:
“Será que ela está duvidando de mim? Será que está pensando que eu estou exagerando ou, quem sabe, sou maluca e estou fantasiando?”. No dia marcado, Cleusa, acompanhada de Sheila, foi com seu carro abarrotado de coisas: alimentos, roupas, sapatos, livros infantis e juvenis, materiais escolares…

De fato, como Cleusa tinha descrito havia uma super lotação; mais de cinquenta “menores” de idades variadas, cuidando uns dos outros, e pasmem, apenas um banheiro funcionando. Ambas, muito chocadas com a situação dos bebês e crianças de tenra idade, partilhando do mesmo sentimento, saíram de lá motivadas a criar um espaço de acolhimento adequado para cuidar de criancinhas da Vó Izabel e assim ajudá-la, desafogando sua casa.

Eram os velhos tempos do Código de Menores, do Juízado de Menores, do Comissariado de Menores… e um Centro de Triagem de Menores ainda não havia sido criado em Campinas. A “Casa da Vó” se prestava a preencher essa lacuna, apresentando-se como uma alternativa dentro da precariedade da situação da assistência social daquela época. A “Casa da Vó”, além de ser um lar praticamente definitivo para determinados menores, funcionava como uma casa de passagem, onde sempre cabia mais um.

Para suprir as despesas de aluguel, alimentação e demais, a Sra. Izabel passava os dias na garagem de sua casa, fazendo seus “trabalhos”. Era uma benzedeira muito conceituada. Prestava assistência espiritual e psicológica a pessoas com os mais diversificados distúrbios. A sra. Izabel não cobrava por seus serviços, sendo que as pessoas deixavam pequenas contribuições. À noite, a garagem servia de sede de um terreiro de umbanda liderado pela própria sra. Izabel.

Com tantos afazeres, Vó Izabel ainda sempre tirava um tempinho para acalentar seus netos, elogiá-los ou “passar um sabão” quando necessário fosse. Então, motivadas no sentido de ajudar aquela abnegada senhora, já bastante idosa, as duas novas amigas, confiando uma na outra, saíram em busca de pessoas que se juntassem a elas para levar à frente a empreitada. Contactaram líderes da comunidade do distrito, pessoas conhecidas e desconhecidas, vizinhos, parentes e, é claro, seus maridos, Alvaro e Jair, os quais de pronto aderiram à causa. Assim, foi se formando um pequeno grupo de trabalho que, aos poucos, foi crescendo e se fortalecendo.

Vocês gostariam de conhecer a continuação desta bela estória de amor?

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